Do lado da luz: ex-moradores de rua falam de esperança aos atuais moradores
Os assistidos do Albergue Noturno – Casa de Passagem, do Centro Espírita Amor e Caridade (CEAC) de Bauru/SP realizaram durante as festividades de Páscoa uma ação inédita e muito impactante: levaram aos atuais moradores de rua uma mensagem de renascimento e esperança junto de um bombom e um abraço.
A ação começou com uma Oficina Cultural, antes da visita, em que os técnicos em terapia ocupacional, psicologia e serviço social levaram os assistidos a refletirem sobre a mensagem da data: o que é ressurreição para quem está em situação de rua? O resultado foi a definição da frase que compôs o cartão que os assistidos levaram, junto de um bombom, aos moradores que hoje se encontram na situação em que eles mesmos estiveram: “Páscoa é dia de renascer e despertar para uma vida nova”.
E foi exatamente com essa mensagem em mente que os assistidos do Albergue - Casa de Passagem abordaram moradores de rua, de surpresa, em pontos estratégicos da cidade como a Praça Rui Barbosa, a praça Expedicionários (frente à TV Tem) e também próximo ao Pronto Atendimento Central, levados pela equipe técnica do Albergue.
“Nós chegamos, falamos que é possível renascer e se manter firme no propósito, pois nós mesmos somos exemplos disso. E abraçamos os colegas, pois não temos preconceito, oferecemos o bombom”, conta Rogério Garcia Domingos, 32 anos, que está na Casa há cerca de dois meses aguardando vaga em Comunidade terapêutica para vencer sua dependência química. Enquanto aguarda, Rogério recebe na Casa apoio psicológico, ocupacional e faz o tratamento médico indicado pelo CAPs (Centro de Atendimento Psicossocial, do SUS) que o mantém limpo e fortalecido de recaídas.
“Eu levei a luz...!”
Para a psicóloga da entidade, Cíntia Costalino, “o resultado foi uma ideia muito forte de retomada de vida, da possibilidade de reconstruir-se, que ficou marcado na percepção dos assistidos, pois cada pessoa que eles abordaram fizeram com que reafirmassem seus propósitos de reconstrução íntima”, revela.
Para Rogério, assistido, a percepção foi além: “Eu me senti bem por ter sido eu a levar a luz a pessoas que, como eu, estavam na mesma situação”. Cíntia reforça: “foi uma experiência muito significativa pra eles terem feito algo bom por alguém, sentirem-se úteis, todos manifestaram essa percepção com muita profundidade”.
“Eu orei a Deus e eles apareceram”
Ricardo de Oliveira Bernardes, 33, deu entrada no Albergue Noturno – Casa de Passagem dez dias após
ganhar o bombom e o abraço dos assistidos na ação de Páscoa. Segundo ele, estava tentando por si mesmo resistir ao vício do álcool e drogas mas as ofertas da rua são muitas. Naquela tarde, sentado próximo ao Pronto Socorro Central, ele orou a Deus sentindo-se completamente sem esperança de conseguir sair da situação de rua.
“Foi quando eles apareceram, falando com a gente, abraçando, mostrando que é possível vencer. Imagine que você está no deserto do Saara e alguém aparece com um copo d’água... é difícil achar uma porta aberta, mas eles apareceram e abriram!” – conta, emocionado. “No dia eu não fui, mas fiquei com aquilo na cabeça... eu soube que minha filha de 11 anos vive rezando por mim e isso mexeu muito comigo, eu queria sair dessa vida mas não tinha mais esperança. No dia seguinte fiquei pensando, e no outro também, até que resolvi procurar o Albergue Noturno. Estou aqui há 15 dias e me sinto forte para aguardar o tratamento da Comunidade Terapêutica. Eu quero hoje provar pra mim mesmo que sou capaz disso”.
“Pra mim, a maior alegria foi ver que nossa ação deu resultado: está aqui nosso colega Ricardo. A semente foi plantada e está aí: cheia de esperança”, finaliza Rogério, com satisfação.
Um detalhe importante acrescentado pelo terapeuta ocupacional Evandro Caversan: “Nosso trajeto não previa passar pelo Pronto Atendimento Central. No entanto, nos avisaram que havia bastante gente lá e incluímos o local em nossa rota”. Nas palavras de Ricardo: “Deus existe mesmo!”.
