Crônicas em ré-maior
Reabilitando surpreende com belissimos textos entitulados "Crônicas em Ré Maior", confira:
Crônicas em Ré Maior - Nº 01 - O Sonho Sonho um sonho que já vivi, e vivo um sonho que não sonhei. Poesia? Metáfora? Paradoxo? Realidade. Tudo que sonhei, vivi, e foi como um sonho, ... quase. ..., árvore, filhos, livro, ... . Livro? ... quase. Amei, ... e como amei, me entreguei, me esqueci, me perdi, ... ali, ... dentro. Vivo um sonho que não sonhei, e sonho um sonho que não vivi. Drogas, fome, chuva, rua, frio, culpa, saudades, vergonha, fracasso, ..., ... . Vivo, ... estou vivo, sonâmbulo, vivo sonhando. Desprezo e compaixão, ódio e amor, culpa e perdão, escolha e remorso. Tangentes. ... desconectado pelo "usuário", ... de crack. Me dá uma pedra !? ... que é pra eu jogar na janela, ... casa de vidro, ... cacos e feridas. Tempo. Aguardando sinal ... . Num milésimo de segundo, conectando, ... conectado. Decisão, cisão, siso, decidi, fui. Nina Simone lembrou "Eu tenho uma vida. Eu tenho vidas!" Agora Sonho em Ré Maior. Ré-começo, Ré-novo, Ré-nasço, Ré-faço, Ré-vivo. Vivo. Sou muitos, ... mas nem tantos. Dormindo e acordando, vivendo e morrendo. Camelo no buraco de agulha, ... passandoooo !!! Por mim e por todos os meus. Sonho, vivo em sonhos. Vivendo e vendo, enxergando ... . Sonhando acordado pra não perder o caminho. Entregar-se jamais. Neste jogo, poucas opções: luta e recomeço, sempre. Morrer é perder o jogo antes do final. Viver. O jogo só termina, quando acaba. Try Again!
Crônicas em Ré Maior - Nº 02 - O Rio
Estou remando novamente. Re-mando. Descobri que o único jeito de chegar à nascente é subindo as corredeiras. Um minuto de descanso pode custar muitos metros de descida. O Rio rola solto. Vida que segue. O Crack, a droga, adormece os remos. Nau a deriva. Estou remando novamente. Re-mando. Voltei. Remei muito mais forte e mais rápido. Remos quebrados, retrocesso, retrabalho. Estou remando novamente. Re-mando. Agora, apenas remo. Aprendi, não é uma guerra, é um rio, o rio e eu. Agora somos um. A ajuda sempre chega às margens, ... no barco, só eu, e os remos. Remar refaz, renasce, remo. O rio: corredeira, calmaria, pedras, barrancos, vento, chuva, vida, vidas, cachoeiras e quedas, Quedas? A ajuda está às margens. Desembarca, vai por terra firme, reembarca, segue. A dependência pesa no barco da vida. Remais é mais difícil no recomeço, re-começo. Remando os braços e o corpos se fortalecem, remando, re-mando. O peso se dissolve, mas não desaparece, só não se sente mais. Agora são só o barco os remos e eu. A nascente ainda longe, água pura de beber. Quando mais perto mais clara água, mais estreito e raso o caminho. Logo o barco não me servirá mais, nem os remos. Outro caminho, caminhos, ... caminho.
Crônicas em Ré Maior - Nº 03 - Independência Dependência e Independência, apenas duas letras de distância para resolver uma pendência. Procuro o meu sete de setembro. Descubro. Que dure até agosto. Liberdade e independência, sinônimos ou antônimos? Inimigas. A liberdade se fez dependente. O Crack, a escolha, a droga. Prisioneiro da minha liberdade. Começo com uma escolha e termino em uma prisão. Tempo. Ainda não é o fim. Afe!!! ... quanta groselha, blá, blá, blá, ..., mi,mi mi. Se liga! Tô suave, se pá eu paro. Só de vez em quando. Não sou viciado, fica sussa, de boa vai. Eu não dependo disso pra viver. Olha só! Sou livre, faço o que quiser. Vou fumar uma pedra, só uma, ..., esquece essa porra toda. Que saco, ..., me dá uma de dez, ..., duas vai, e troco pra cinquenta. Cachimbo anestésico. Cadê meu sete de setembro? Estava aqui agora. Sumiu? De novo? Ainda é agosto? Falta muito pra setembro? Mau gosto. Desgosto. Espero, descubro e aprendo. Pra ser independente não posso mais ser livre. Procuro uma prisão. Que me proteja da minha liberdade. Pode até ser um amor. Desde que seja próprio. O carcereiro sou eu. Meu EU. Procuro meu sete de setembro. Acho que encontrei no dez de agosto.