Desabafo: EU NÃO SOU VAGABUNDO
"Eu sou o palhaço Suspiro. Eu nasci no circo Garcia e sou circense. Já viajei o Brasil inteiro com
vários circos como o Espacial, o Circo de Roma e vários outros. Tive o prazer de ir até o exterior
como México, Chile, Argentina e Canadá. Várias vezes já estive aqui em Bauru com os circos,
mas chegou um tempo que eu parei e fui ser o palhaço das lojas. Sem dúvida, sou o palhaço
mais fantástico do mundo das lojas!
Em várias cidades que já passei, estive em vários programas de TV e tive muito contato com
artistas famosos.
No Albergue
Todo mundo tem uma queda na vida e o palhaço Suspiro também, como ser humano teve a
sua queda e da mais feia porque é a queda na bebida alcóolica. Eu já estava perdendo a moral
nas lojas e com o Circo. Aí, eu estava de Marília/SP fazendo propaganda nas lojas e senti que já
estava na hora de pedir ajuda para alguém, porque eu estava bebendo muito e somente
conhaque.
Fui até a assistente social de Marília que virou as costas para mim. Passei em Ourinhos/SP e
Santa Cruz do Rio Pardo/SP e também viraram as costas para mim. Dou graças a Deus porque a
assistente social aqui do Albergue Noturno – Casa de Passagem do CEAC, de Bauru, está me
ajudando.
Humilhação
Eu estou muito feliz porque o CEAC está me ajudando numa parte, e estou triste porque fui
fazer um exame médico e aí eu cheguei na porta do Albergue e apertei o interfone para entrar
e entregar o exame para a assistente social. Fiquei esperando do lado de fora até eles abrirem
o portão, quando passou três mulheres e uma disse: “Aí só tem vagabundo e maloqueiro”. Me
senti muito humilhado e tive vontade dizer a elas:
“A senhora não conhece o trabalho que é feito aí dentro! Tem muita gente que precisa de
ajuda, de uma clínica, e eles arrumam lugar pra você refletir! Tem psicóloga, assistente social!
Eu nunca fui vagabundo, sempre trabalhei e sou conhecido nos Circos do Brasil e do Mundo!
Eu vim aqui porque estou precisando de uma ajuda, não sou vagabundo! Ela acha isso porque
não conhece o que é feito. Nesse frio, por exemplo, quanta gente vem aqui pra não morrer de
frio. Aqui tiram o documento das pessoas, tem atividades o dia todo, a gente faz tapetes,
cadeiras, aqui se reabilita para voltar à sociedade. Tem gente boa que cai na bebida e nas
drogas e vem aqui se reerguer, porque o cair do homem é o levantar de Deus”."
Texto: Alziro Verdiano Zandone, 50 anos - reabilitando
Foto: arquivo pessoal
1a Oficina de Arte e Comunicação - Projeto Nossa Voz no Mundo - coordenação: Angela Moraes - jornalista.